terça-feira, fevereiro 13, 2007

Últimos minutos

Tradução de Marden Oliveira Silva

Last Minutes by Ivy Goodman

Completei quinze anos no dia quinze. Meu pai morreu no dia primeiro, minha avó no décimo segundo, meu namorado no décimo oitavo e minha mãe, no vigésimo segundo dia, disse para mim:
– Você é a próxima – ela me deu um pacote com lâminas de barbear e um revólver azul.
– Sugiro o revólver – ela cochichou, - mas, de qualquer forma, faça-me um favor e entre num saco plástico primeiro – ela abriu a porta do porão e acenou: – Até logo, Dena.
Peguei o telefone da lavanderia que ficava no porão e liguei para uma amiga.
– Ela não está aqui ­– disse seu irmão.
Liguei de novo.
– Eu não acabei de dizer que ela não está aqui?
– Estou desesperada ­– eu disse. – Vou me suicidar.
– Mas ela não está aqui.
Liguei para minha mãe para ela vir até o andar de cima.
– Está com medo – perguntou ela. – Relaxe e não se preocupe com isso.
– Estou com muito frio.
– Espere só um minuto.
Ela abriu a porta e jogou alguns cobertores no chão.
– Está melhor? – ela perguntou, enquanto pegava o telefone de novo.
– Estou com sede agora.
– Bem, tem água corrente bem aí do seu lado, não é?
– Não quero água. Eu quero...
– Você quer, você quer, você sempre quer! Por que você não se mata e me deixa em paz?
Ela desligou o telefone.
Liguei para minha irmã que estava na escola.
– Ela está no banheiro – disse a colega de sala.
– É importante.
– Eu falo para ela ligar de volta para você.
– Não, eu espero.
Esperei dez minutos.
– Que diabos você quer? Perguntou minha irmã.
– Quantas vezes tenho que dizer que ligo para casa todas as quintas-feiras. Não me ligue na quarta, já que vou ligar mesmo na quinta.
– Preciso falar com você.
– Mamãe sabe que você está ligando? É um gasto a mais. É ridículo. Eu deveria estar estudando.
– Vou me matar.
– Não acredito nisso.
– Dena, neste mês não houve mortes bastante,. Até aquele babaca com quem você estava saindo...
– Ele não era babaca.
– Era sim.
– Babaca, babaca – disse ela e em seguida desligou o telefone na minha cara.
Liguei para o tio Richard que certa vez me disse que eu poderia contar com ele.
– Desta vez, esqueça – disse Richard.
Liguei para Brenda, irmã dele.
– Dena de quê?
Liguei de novo para minha mãe.
– Isso significa que você ainda está viva? Dena, mandei você ir para baixo há horas.
Liguei para o serviço de informação. Pediram-me para discar a opção 0. Disquei 0.
– Disque Hotline, disse a opção 0.
Disquei Hotline.
– Alô, Hotline.
– Me ajude – eu disse. – Vou me matar.
– Oh, não – disse Hotline. – Oh, não, oh, não, oh, não...
Liguei para minha mãe de novo.
– Eu sabia que era você – disse ela. – Quem mais iria me acordar?
– Desculpe.
– Me diga uma coisa: você já está dentro do saco?
– Não.
– Dena, o que você está fazendo consigo mesma? Vá em frente. E, se acha que vai fazer barulho, ligue a máquina de lavar primeiro.
Tirei minhas roupas e as enfiei junto com os cobertores na máquina de lavar. Joguei o sabão por cima. Programei a máquina para o modo “morno” e tampei.
Depois de encontrar um saco de lixo, sacudi para abri-lo e entrei dentro, levando as armas e o telefone comigo. Peguei o telefone:
– Papai?
– Ouça sua mãe – ele respondeu. – Eu não me importo com o que faça. Só fique longe de mim. Afinal de contas, eu morri para me livrar de você.
– A vovó está aí com você?
– Estou – disse ela. – Que barulho é esse? A máquina de lavar roupas está ligada? E por que você não se apressa e corta os pulsos ou qualquer outra coisa? Uma mulher da minha idade não tolera suas besteiras. A propósito, como vai sua irmã?
– Bem – disse minha irmã. – Estou com saudades.
– Use o revólver – disse meu namorado. – Coloque-o na boca e o aponte em direção ao teto.
– Mãe!
– Dena, quantas vezes tenho que lhe dizer? – disse minha mãe.
– Mas está tão quente aqui.
– Você sente calor, sente frio. O que há de errado com você?
– Não me diga que ela inventou uma febre – disse vovó.
– Dena, é sua mãe. Sua cabeça está doendo?
– Sim.
– Então, mantenha Dena longe de mim – disse meu pai.
– De qualquer forma a gente ia terminar – disse meu namorado.
– Você fechou o saco? Feche o saco – disse minha mãe. – Ou vou ter que sujar minhas mãos. Junte as pontas e feche essa droga de saco.
– Mas mãe, está muito quente agora.
– Respire fundo, Dena, como se você estivesse com enjôo.
– Não consigo. As paredes estão se fechando sobre mim – eu disse.
– As paredes estão se fechando sobre ela – eles disseram.
– Por favor, o plástico está grudando em mim.
Ninguém respondeu.